A DEGENERAÇÃO DO DEBATE POLÍTICO: QUANDO A PROVOCAÇÃO INÚTIL E A VIOLÊNCIA SUBSTITUEM A RAZÃO

A provocação e a agressão física durante o debate eleitoral para a prefeitura de São Paulo, em que um candidato atacou o outro com uma cadeira após ser provocado, não são apenas um reflexo de descontrole, mas a completa degradação do espaço público de diálogo que a política deveria representar. A política, desde sua concepção lá na Grécia antiga, foi pensada como o lugar da palavra, do debate, do logos. Aristóteles, em sua obra "Política", via o homem como um "animal político", aquele que, por natureza, debate e delibera sobre o bem comum. A virtude política reside na capacidade de articular propostas, argumentar e persuadir por meio da razão, não pela provocação infrutífera e pela força bruta.

Esses atos de provocação e violência são ultrajes à tradição democrática e filosófica que molda nossas instituições políticas. Na ágora grega (praça pública), os cidadãos reuniam-se para discutir os destinos da pólis (cidade), com a palavra como sua principal arma. Platão e Aristóteles criticariam severamente a barbárie de substituir a dialética pelo uso de instrumentos de provocação e violência. O verdadeiro líder deve governar com o poder da razão, como Sócrates sugeria em suas discussões filosóficas, não com a imposição de sua força ou provocação.

Essa triste barbárie (e outros debates anteriores, especialmente os "debates" presidenciais) é a encarnação do anti-diálogo e a negação da essência democrática. Recordo o ensinamento de Hobbes, que afirmava que, sem a razão, caímos num estado de guerra de "todos contra todos". Quando a violência se torna a ferramenta política, abandonamos o contrato social (a Constituição Federal) e regredimos ao caos e à anarquia. É um retrocesso civilizacional.

A filosofia política moderna, com pensadores como John Locke e Montesquieu, enfatiza a necessidade de debate, separação de poderes e respeito ao estado de direito. Em um debate eleitoral, espera-se que os candidatos ofereçam ao público ideias sólidas, propostas concretas e soluções para os problemas da sociedade. O povo não é um espectador de circo (muito embora muitos adorem a política do "quanto pior, melhor"). O povo, em sua essência, é o destinatário de ideias que podem transformar suas vidas. Rousseau, em seu "Contrato Social", afirmava que o poder legítimo só pode emergir da vontade geral e do consentimento popular — um consentimento que se constrói (ou deveria) pelo diálogo, não pelo espetáculo grotesco da provocação barata e da violência como resposta.

O colapso moral evidenciado nesse episódio é a prova de que o tecido democrático está em frangalhos quando permitimos que os debates se transformem em arenas de insinuações e violência física. A provocação e a agressão não são apenas falhas de caráter pessoal, mas falhas de nossa cultura política, que cada vez mais valoriza o espetáculo em detrimento do conteúdo. É a completa banalização da violência e a negação de qualquer virtude que se esperaria de candidatos à governança de São Paulo, a maior cidade da América do Sul.

Em vez de fomentar um ambiente onde as ideias floresçam, estamos assistindo ao crescimento de uma política de ressentimento, onde a agressão é vista como resposta à provocação. Uma sociedade que aceita isso está fadada ao declínio, pois um candidato que ataca seu oponente com uma cadeira não é apenas incapaz de governar, mas representa o perigo de um governante que, ao invés de lidar com os desafios de forma racional, recorrerá à violência para impor sua vontade.

Por fim, esse triste episódio deve servir como um alerta: a política é o terreno da razão, da sensibilidade, do debate civilizado, e jamais deve ser contaminada pela provocação infrutífera, pela brutalidade e pela violência. Se não mantivermos essa distinção clara, perderemos o que há de mais fundamental em nossa vida democrática — a capacidade de resolver nossos conflitos por meio da palavra, e não pela força.

"Onde cessa a lei, começa a tirania." – John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo Civil.

"A violência é um fracasso moral." – Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.

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